DE OLHO NA EMENDA DE KIGALI, SETOR CAMINHA PARA FLUÍDOS REFRIGERANTES NATURAIS

Promovida na manhã do segundo dia (24/11) do 17º CONBRAVA, a mesa-redonda “Fluídos Refrigerantes” colocou em pauta as mais recentes novidades sobre os impactos deste produto no mercado do frio, no meio ambiente e na segurança da sociedade.

A atividade foi coordenada pelos engenheiros Roberto Peixoto, consultor do PNUD para projetos de implementação do Protocolo de Montreal na área de refrigeração e ar condicionado; e Celina Bacellar, gerente de produtos para refrigeração industrial da Johnson Controls.

Fizeram parte da mesa-redonda a advogada Kamyla Borges Cunha, coordenadora da Iniciativa de Eficiência Energética do Instituto Clima e Sociedade; Renan Scudeiro, consultor de negócios do Colder (Ultragaz); o engenheiro Oswaldo Siqueira de Bueno; Arthur; e o engenheiro Thiago Pietrobon, presidente da Câmara Ambiental de Refrigeração e Ar Condicionado da ABRAVA.

O representante da Ultragaz abordou as tendências na evolução dos fluídos refrigerantes, destacando as vantagens das características termodinâmicas apresentadas pelos refrigerantes naturais, como o R290, em comparação aos sintéticos, como o R22. É preciso muito menos do primeiro produto em relação ao segundo, para cumprir o mesmo papel em um equipamento.

“Entretanto, o mercado busca inserir o Brasil nos novos padrões mundiais de sustentabilidade, com vistas a oferecer qualidade em termos de refrigerante, como o R290, com pureza 99%, visto que contaminantes prejudicam a performance dos equipamentos, podendo causar problemas como condensações e variações de pressão”, afirmou Scudeiro.

O palestrante contou que a Ultragaz está em fase final de desenvolvimento de um fluído 100% intercambiável, “para dar mais uma opção para as empresas que fabricam equipamentos de linha branca, e teremos capacidade de atender todo o Brasil”, explicou. 

Já Arthur, focou sua palestra na Emenda de Kigali, que entrou em vigor em janeiro de 2017 e foi ratificada por mais de uma centena de países, processo que o Brasil não fez. Trata-se de uma emenda ao Protocolo de Montreal, relacionada à proteção da camada de ozônio e contra o efeito estufa. Traz consigo um cronograma de redução do uso dos HFCs.

“A Emenda de Kigali foca, principalmente, nos gases de alto potencial de efeito estufa. Muitos compromissos e metas foram discutidos e negociados, mas conseguimos evoluir um pouco em questões ligadas ao metano e ao desmatamento”, salientou. 

Para o especialista, estão entre os pontos de maior relevância para a questão climática – e também o de maior divergência – a queima de combustíveis fósseis e o uso do carvão como fontes de energia, que são extremamente poluentes. “Portanto, focar-se somente no aspecto da eficiência energética é tapar o sol com a peneira, pois não vamos cobrir um dos principais pontos, ou seja, a questão da eficiência energética”, pontuou. 

Ainda abordando a Emenda de Kigali, a advogada Kamyla Borges Cunha, que atua fortemente para o Brasil (Congresso Nacional) ratificar logo este documento – aprovado pelo então presidente Michel Temer, em 2018, – disse que a emenda é um tratado que versa sobre questões climáticas essenciais, levando-as para direções que se complementam. “Entende-se a necessidade de redução dos HFCs para fortalecer a integração entre fluídos alternativos e equipamentos mais eficientes”, frisou.

Para a especialista, quanto mais demorarmos para ratificar a Emenda de Kigali, mais inseguro ficará o mercado, afinal ela é condicionante para que o país desenvolva o seu plano de redução dos HFCs, iniciativa de competência do Ministério do Meio Ambiente. A emenda também vai dar direção para um plano que orientará a transição dos fluidos refrigerantes”, argumentou.

Presidente da Câmara Ambiental de Refrigeração e Ar Condicionado da ABRAVA, Thiago Pietrobon enfatizou que o AVAC-R é importante para fechar este ciclo, mas ainda opera com uma ociosidade muito grande, por conta das dificuldades que enfrentamos para trabalhar com o gás. 

“O Brasil tem uma boa cadeia de distribuição de empresas que trabalham com regeneração e reciclagem. Temos centrais no Nordeste, Sudeste, incluindo o Rio de Janeiro, e até na Zona Franca de Manaus. Do ponto de vista de descarte dessa matéria-prima e do correto processamento, estamos cobertos, levando em conta que este é um país de grandes dimensões. Desde o início, estamos trabalhando com o apoio do PNUD”, lembrou ele, referindo-se ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Outro componente da mesa-redonda, o engenheiro Oswaldo Siqueira de Bueno, consultor técnico da ABRAVA, jamais deixou de considerar o aparelho de ar-condicionado de janela, em detrimento do split. 

De acordo com a sua lógica, há uma série de questões técnicas envolvendo a montagem de splits, como a instalação das tubulações e os cuidados que devem ser tomados em todo o processo, a fim de evitar possíveis vazamentos de gás – problemas que invariavelmente ocorrem.

“O ar de janela pode ser barulhento, mas já está montado e foi fabricado dentro de limites e especificações e dificilmente algo vai dar errado, principalmente em relação ao circuito de refrigeração”, ponderou.