MONITORAMENTO É PEÇA-CHAVE PARA A QUALIDADE DO AR DE INTERIORES

A primeira das quatro mesas-redondas do 17º CONBRAVA – Congresso Brasileiro de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação, Aquecimento e Tratamento de Ar colocou em debate o tema “Qualidade do Ar de Interiores”, um dos assuntos mais efervescentes dos últimos tempos, que ganhou ainda mais corpo a partir da disseminação da pandemia de Covid-19.

Realizada no final da manhã do dia 23 e coordenada pelos engenheiros Antonio Luís de Campos Mariani, Celso Simões Alexandre e Francisco Pimenta, a atividade reuniu a médica epidemiologista Adélia Aparecida Marçal dos Santos e o engenheiro Arthur Sequeira Aikawa.

Ao abrir os trabalhos, Mariani deixou claro que o monitoramento da qualidade do ar de ambientes internos é uma maneira eficaz de reduzir os riscos de contaminação por patógenos, incluindo o coronavírus.

“Há a necessidade de saber, por exemplo, qual será a interface entre a saúde dos ocupantes dos ambientes internos e o ar desse local. São elementos críticos os parâmetros a serem monitorados e relacionados; as correlações estabelecidas para garantir que a qualidade desse ar seja boa”, refletiu o especialista em ar-condicionado e docente no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de São Paulo (USP).

Mestre em infectologia e medicina tropical pela Universidade Federal de Minas Gerais e especializada em segurança do paciente e qualidade pela Universidade de Calgary (Canadá), a médica Adélia Aparecida Marçal dos Santos deu início à sua apresentação relembrando uma das maiores tragédias sanitárias da história – a pandemia de cólera que assolou o mundo entre 1846 e 1860, que somente em Londres matou em torno de 10 mil pessoas.

Para ilustrar, mostrou trecho de um filme que retratou esta passagem histórica e como esse período foi conturbado também pelos conflitos gerados entre os achados científicos daquela época, a saúde da população e os interesses econômicos de então – situação similar, em alguns aspectos, como a que ainda vivemos por causa da Covid-19. 

“Precisamos ser humildes para sempre duvidar de tudo o que está estabelecido, e irmos além da fronteira do nosso conhecimento. Muita gente precisa, por exemplo, estar aberta para temas como a qualidade do ar interior e sua relação com a saúde humana”, afirmou a palestrante, lembrando que somente a poluição atmosférica mata anualmente mais de 7 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

A médica mostrou-se muito preocupada com a baixa qualidade do ar de interiores e pouca ventilação em locais de alta concentração de pessoas, como fábricas e callcenters, onde corre a dispersão de vírus por meio de aerossóis expelidos oralmente. “Não se tratam apenas de mortes, mas do enorme contingente de pessoas com redução da capacidade respiratória e cognitiva, além de problemas fisiológicos, como cefaleia, ansiedade crônica e nos sistemas cardiovascular e circulatório”, ressaltou.

Na sequência, o engenheiro Arthur Sequeira Aikawa, cofundador da Omni-electronica, empresa da Incubadora USP/Ipen-Cietec, questionou o modo como o mercado vai lidar com o possível estabelecimento de um paradigma de monitoramento online mais presente, “uma vez que hoje ainda não temos este tipo de monitoramento de forma eficiente”. 

“O primeiro problema que enfrentamos, quando se trata do monitoramento da qualidade do ar, naturalmente, é o de priorização, já que se trata de medir a viabilidade técnica e econômica. Para tanto, deve-se pensar em como se fazer uma mitigação de risco acerca do contato entre as pessoas e avaliar a concentração de CO2 em determinados ambientes”, argumentou.

De acordo com Aikawa, há uma série de instalações com sistemas mal projetados, fora das normas. Por outro lado, existem sistemas bem projetados, mas sem um time com capacidade técnica para operá-lo no dia a dia”, complementou.

Lançamento 

Durante a mesa-redonda, foi lançada a Cartilha de Qualidade do Ar Interno, publicação idealizada pela Regional ABRAVA-MG e pelo PNQAI – Plano Nacional de Qualidade do Ar Interno. A obra, que tem por objetivo disseminar informações a respeito da QAI, foi apresentada pelo engenheiro e ex-diretor regional da entidade Carlos Braga.